SOBRE OS PAVILHÕES DO PARQUE - Parte II


Cybelle Salvador Miranda[1]

    O livro de Jorge Mangorrinha “Pavilhões do Parque – Património e Termalismo nas Caldas da Rainha” foi resultado da exposição promovida durante a inauguração do Museu do Hospital e das Caldas. Estes belíssimos pavilhões foram projetados pelo engenheiro Rodrigo Berquó, então diretor do Hospital Termal, a partir de 1888. Antes, o Administrador do Hospital Ginioux de Campos solicitou a Pedro José Pezerat o projeto de um novo estabelecimento modernizado, ele que já fora autor do Projeto dos Banhos de São Paulo em Lisboa e como professor da Escola Politécnica, foi professor de Berquó. Este projeto previa serviços de balneoterapia, além de ser prevista para o novo equipamento gestão por empresa privada. Porém não se concretizou, e eram frequentes as críticas às condições precárias do estabelecimento, sendo sugerida a construção de um novo hospital independente do antigo.
    Após a posse, Berquó tomou providências para transformar o Passeio da Copa em Parque, instalar o novo Hospital Civil de Santo Isidoro em edifício de raiz (o qual foi inaugurado em 1893), e construir novo hospital destinado ao internamento. O primeiro projeto dos Pavilhões do Parque data provavelmente de 1890, sendo que a viagem de Berquó à França deve ter sido o motivo para que este elaborasse segunda versão do projeto (Figura 01).
Figura 01 - Alçado da frente do Poente versão aprovada 1892. 
Fonte: MANGORINHA, 1999. p. 53.
    
    A ampliação do antigo edifício do Hospital iniciou antes das obras dos Pavilhões, estes tendo sido iniciados em 19 de março de 1893; o projeto do novo hospital integrava a remodelação da Casa de Convalescença, sendo planejada uma ligação entre esta e os pavilhões. A casa de convalescença fora projetada pelo arquiteto Rodrigo Franco no contexto das reformas programadas por D. João V, porém as obras só foram efetivamente entregues em 1855 (Figura 02). Este edifício foi demolido nos anos de 1930 para dar lugar ao Balneário Novo, projetado pelo Arquiteto Álvaro Augusto Machado, destinado à ampliação dos serviços hidroterápicos do Hospital termal. Apenas a fachada pombalina foi preservada por sua localização ser privilegiada ao estar voltada ao Largo da Copa (atual Largo Rainha D. Leonor). Cumpre destacar que o projeto previa o acréscimo de um piso no Hospital antigo, mantendo-se o mesmo estilo, o que é louvado pelos jornais da época, sendo reassentado o frontão original ao cume do terceiro pavimento.
Figura 02 - Antiga Casa de Convalescença.
Foto: Cybelle Miranda, 2015.
    O projeto constou de sete pavilhões, dos quais cinco se destinavam as enfermarias, um deles à galeria, com dimensões de 55 metros de comprimento por 9 de largura e outro na extremidade sul,isolado dos demais. A concepção inicial do projeto continha um prédio mais compacto, enquanto a segunda e definitiva versão adotou afastamentos de quase 10 metros entre os pavilhões, o que favorecia o arejamento e as condições de higiene. Quanto à ornamentação, a versão implantada é mais simples, com separação entre os pavilhões e o parque através de sebe viva. Foi proposto um elevador a vapor para transporte dos doentes entrevados, bem como sistema de arejamento das enfermarias para quando as janelas estivessem fechadas, por meio de chaminés metálicas com tubos de descarga (Figuras 03 e 04). 
Figura 03 - Pavilhões do Parque.
 Foto: Cybelle Miranda, 2015.

Figura 04 - Pavilhões vistos do Parque D. Carlos I.
Foto: Ronaldo Marques de Carvalho, 2015.
   
    Do ponto de vista estético, o conjunto enquadra-se no ecletismo de influência francesa, porém sendo seu aspecto final de estrema singularidade na arquitetura portuguesa. Apresenta, ademais, similaridade com o Balneário de Las Salinas, que foi construído em Espanha, ao noroeste de Madri, concomitantemente ao de Caldas,. A textura das fachadas em pedra rústica em concordância com a moldura verde do Parque acentua efeito cenográfico, bem como os desenhos recortados de pedras maiores que acompanham os cunhais, vergas e ombreiras (Opus incertum), as chaminés de ventilação e o pé-direito elevado dos andares (Figura 05).
Figura 05 - Detalhe das molduras em pedra.
Fonte: MANGORINHA, 1999. p. 63.



[1] Os textos foram produzidos a partir das visitas de campo realizadas durante o Pós-doutoramento em História da Arte, na Universidade de Lisboa. 

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