“A Lenda do Pirarucu”, por Anete Costa Ferreira

            O blog do LAMEMO divulga o texto apresentado pela historiadora Anete Ferreira, correspondente paraense em Portugal, no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra em agosto de 2010, em comemoração ao Ano Internacional da Biodiversidade – “OS BICHOS: A biodiversidade no tempo dos nossos avós”.

“A Lenda do Pirarucu”
            O Pirarucu era um índio que pertencia a tribo dos Uaiás, habitante das planícies de Lábrea no sudoeste da Amazónia. Era valente, guerreiro, porém perverso, o que causava admiração a todos por ser filho de Pindarô, homem bom e também chefe de tribo. Era vaidoso, egoísta e primava pelo excesso de poder. Um dia enquanto seu pai fazia visitas de cortesia a tribos vizinhas, aproveitou para tomar vários ameríndios como reféns, sem justificar o motivo do seu acto.
            Tupã, o Deus dos Deuses, desgostoso com aquele comportamento decidiu punir o autor da barbaridade. Chamou Iururaruaçu – a Deusa das Torrentes, e ordenou que espalhasse trovão onde Pirarucu estava pescando com outros nativos nas margens do rio Tocantins.
            O fogo alastrou-se por toda floresta. Quando Pirarucu percebeu as ordens e ouviu a voz enraivecida do Tupã, ignorou-a com risadas e palavras debochadas. Em represália, o Deus Supremo enviou Xandoré, o Demónio que odeia os homens para atirar relâmpagos e trovões sobre o guerreiro desobediente, enchendo o ar de luz.
            Naquele instante Pirarucu tentou escapar, porém quando corria atordoado entre os galhos das árvores, um relâmpago fulminante acertou o seu coração. Mesmo caído e ainda suspirando recusou pedir perdão. Seus companheiros assistiram assustados o seu corpo ser levado para as profundezas do rio Tocantins e transformado em um gigante e escuro peixe. Desapareceu nas águas e nunca mais voltou.
            Pirarucu é o maior peixe de escama de água doce do Brasil e um dos maiores do mundo, mede entre 2 a 3 metros de comprimento e pesa cerca de 100 a 200 quilos. Dotado de mimetismo, adquiri a cor das águas onde se encontra. Vive na bacia amazónica entre os Estados de Tocantins, Araguaia, Mato Grosso e Goiás. Encontra-se também, nos lagos, igarapés (florestas inundadas) e demais rios tributários de águas claras, barrentas e pretas.
            Conhecido como o “Bacalhau da Amazónia” pelo delicioso sabor da sua carne que tanto pode ser consumida fresca, salgada ou seca. É considerado o peixe de maior valor económico e alimentício  na Amazónia.
            Do Pirarucu tudo é aproveitado: as escamas (artesanatos e lima para as unhas); os ovos (na alimentação); a pele (indústria de calçados, malas e vestuários); a língua (ralar mandioca e guaraná em bastão) e o bucho (depois de seco é utilizado como cola).
            A lenda perpetuou-se sendo motivo de representações nas tribos Ticuna e Carajás, dentre outras que habitam na região amazónica.

Anete Ferreira e Cybelle Miranda no Palácio Foz, Lisboa, julho de 2012
Foto: Ronaldo Marques de Carvalho

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