BELÉM DOS ECLETISMOS – Elementos decorativos marcam as casas burguesas no bairro de Nazaré
por Ana Maria Cruz
bolsista de IC
A arquitetura eclética
surgiu dos ideais revolucionários, baseados em pensamentos racionais e
inovadores, onde foi rapidamente adotada pela burguesia, pois atendia aos seus
desejos e necessidades como modernidade, progresso, conforto e melhoria do
padrão de vida (PATETTA,1987). Tal constatação pôde ser vista em Belém, na
segunda metade do século XIX, quando a economia da borracha estava no seu
melhor momento, dessa forma causando melhoramentos substanciais para a cidade, onde
os palácios, casas e equipamentos urbanos passaram a apresentam uma riqueza
enorme em seus detalhamentos e materiais.
A
saber: O final do século XIX é marcado por muitas mudanças no panorama urbano
nortista, dessa forma há o aparecimento de fachadas decoradas com figuras e
festões de gosto eclético. Nota-se uma ruptura entre as formas tradicionais de
viver e construir, surgindo assim uma busca por padrões construtivos e técnicos
capazes de estabelecer uma imagem desejada de modernidade, dessa forma gerando
novas tipologias de moradia.
A
arquitetura que se instaurou na construção nortista, nos primeiros anos do
século XX, possuiu referenciais privilegiados, pois se tinha uma liberdade de escolha
e podia mesclar estilos e mudar a volumetria, em decorrência do programa de
necessidades. Em
Belém na maioria das vezes as edificações têm fachadas que se expressam através
de modelos classicizantes, que seguem uma ordem herdada da arquitetura clássica
o que lhe garante harmonia e unidade (FARIA, 2013).
Ecletismo no bairro de Nazaré
O bairro de Nazaré está
localizado nas partes mais altas do sítio de Belém, sua ocupação iniciou-se
durante o governo de Pombal, no entanto, suas maiores mudanças vieram a ocorrer
somente no chamado “ ciclo da borracha”, onde bairros próximos ao centro
tiveram maior notoriedade e receberam mais investimentos.
Ele foi o primeiro bairro a receber projetos
de arborização, onde foram plantadas inúmeras mangueiras, fato este que rendeu
à cidade de Belém a imagem de “Cidade das Mangueiras”, como também a implantação
de vias largas, já pensando em uma mobilidade futura. O primeiro molde de
transporte público, o primeiro arranha-céu da Amazônia (o Edifício Manoel Pinto
da Silva), e a Igreja de Nossa Senhora de Nazaré são marcos do bairro (FURTADO,
2018).
Em função do aumento do poder aquisitivo da
população ocorreu também um aumento expressivo do número de construções
privadas, com a utilização recorrente de materiais de construção importados
como: grades de ferro, condutores de águas pluviais, azulejos, entre outros (DERENJI,
1987).
As
construções presentes no bairro possuem características e elementos marcantes da
arquitetura eclética, onde observam-se as divisões verticais de fachadas, tendo
o embasamento chapiscado ou rusticado no nível do porão, a fachada propriamente
dita, a qual apresenta cheios e vazios e o coroamento realizado pelas
platibandas, além dos inúmeros elementos decorativos, tais como: pilastras com
capiteis, cimalhas, frontões, ornamentos em estuque e molduras em torno dos
vãos das portas e janelas.
Em relação aos
ornamentos, tem-se o diferencial nas cornijas que passaram a apresentar dentículos
na sua composição e o acréscimo de ornatos nos vértices dos arcos plenos,
podendo ser rocaille, volutas, flor-de-lotus, rosetas assim como muitos outros.
No revestimento tinha-se o uso constante de reboco liso pintado ou vários tipos
de fingidos imitando pedra ou rusticado, ou ainda de azulejos.
Podemos
destacar muitos exemplos no bairro de Nazaré, hoje abrigando residências, mas
principalmente órgãos públicos, lojas e restaurantes. Abaixo, um mapa
demarcando ruas onde essa arquitetura é bem presente e em seguida fotos de
exemplares encontrados em algumas das edificações citadas acima.
Imagem 01- Mapa com a identificação das ruas onde se
encontram exemplares de arquitetura eclética.
Fonte: Ana Maria Cruz
Imagem 02: Platibanda na Tv. Dr Moraes
Arte digital: Ana Maria Cruz; Fotografia: Ana Maria
Cruz, 2019.
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03: Platibanda na Av. Cmt. Brás de Aguiar
Arte digital: Ana Maria Cruz; Fotografia: Ana Maria Cruz, 2019.
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04: Platibanda na Av. Gov. José Malcher
Arte digital: Ana Maria Cruz; Fotografia: Ana Maria Cruz, 2019.
Imagem 05: Molduras
de esquadrias na Av. Cmt Brás de Aguiar
Arte digital: Ana Maria Cruz; Fotografia: Ana Maria Cruz, 2019.
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06: Molduras de porta, janela e óculos na Av. Nazaré
Arte digital: Ana Maria Cruz; Fotografia: Ana Maria Cruz, 2019.
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07: Molduras, elementos decorativos e guarda-corpo na Tv. Dr. Moraes
Arte digital: Ana Maria Cruz; Fotografia: Ana Maria Cruz, 2019.
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08: Moldura de janela e guarda corpo de ferro na Tv. Dr. Moraes
Arte digital: Ana Maria Cruz; Fotografia: Ana Maria Cruz, 2019.
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09: Molduras de janelas na Av. Nazaré
Arte digital: Ana Maria Cruz; Fotografia: Ana Maria Cruz, 2019.
Imagem 10: Molduras de portas e bandeira de ferro na
Av. Gov. José Malcher
Arte digital: Ana Maria Cruz; Fotografia: Ana Maria Cruz, 2019.
Arte digital: Ana Maria Cruz; Fotografia: Ana Maria Cruz, 2019.
Imagem 12: Molduras, elementos
estucados e guarda-corpos do Palacete Bolonha
Arte digital: Ana Maria Cruz; Fotografia: Ana Maria Cruz, 2019.
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13: Portão de ferro na Av. Gov. José Malcher
Arte digital: Ana Maria Cruz; Fotografia: Ana Maria Cruz, 2019.
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14: Portão de ferro Art Nouveau na
Av. Nazaré
Arte digital: Ana Maria Cruz; Fotografia: Ana Maria Cruz, 2019.
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15: Portão de ferro na Tv. Dr. Moraes
Arte digital: Ana Maria Cruz; Fotografia: Ana Maria Cruz, 2019.
Imagem 16: Portão de ferro na Av. Cmt Brás de Aguiar
Arte digital: Ana Maria Cruz; Fotografia: Ana Maria Cruz, 2019.
Conclusão
Os elementos decorativos
são peças fundamentais na identificação arquitetônica das edificações e fazem
parte da composição estética projetual. No caso da arquitetura eclética há aspectos
que a diferencia dos outros movimentos arquitetônicos, principalmente pelo uso
misto de elementos em sua composição, podendo ser eles de vários estilos
arquitetônicos. Em Belém, os mais comuns são de vocabulário classicista, no entanto,
podem ser vistos também da arquitetura renascentista e barroca.
O uso conjunto de
elementos de várias épocas em uma só concepção tornou possível escolher o que
era considerado de mais interessante de cada época e aplicar tudo em uma única
concepção. Como essa prática tornou-se muito comum entre a classe burguesa
belenense, podemos encontrar muitas repetições de elementos e ornatos que são considerados
marcantes para essa arquitetura, como é o caso das platibandas vazadas com
balaústre, ornamentos de parede em estuque, entablamentos com molduras e
ornatos, festão compondo os frontões, cornijas sempre marcando divisões de
andares, capiteis e pilastras juntos fazendo papel de marcação de plano de
fundo nas fachadas.
A utilização de novos
materiais também foi muito importante para selar o diferencial desse período
principalmente o uso do ferro, sua destinação mais comum era em portões e
guarda-corpos com trabalhos ricos em detalhamento, em sua maioria possuindo
incorporação de elementos art nouveau,
dessa maneira contendo formas mais orgânicas relacionadas com a natureza, assim
como também os condutores de águas pluviais todos bem trabalhados e com
detalhes minuciosos.
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Referências
CRUZ, Ana Maria;
GUERREIRO, Gustavo; MENDES, João Vitor; ARAÚJO, Raissa. LINGUAGEM ECLÉTICA NO BAIRRO DE NAZARÉ EM
BELÉM. Artigo das disciplinas Estética das Artes Plásticas e THAU V.
Curso de Arquitetura e Urbanismo. UFPA. Belém, Pará. 2019.
DERENJI,
Jussara da Silveira, Arquitetura
Nortista: a presença italiana no início do século XX. Manaus: Sec, 1998
FARIA,
Maria Beatriz Maneschy. Arquitetura
residencial eclética em Belém do Pará (1870-1912): um estudo da gramática das
fachadas. 2013.183 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal
do Pará, Belém, 2013.
FURTADO, Victor.
Nazaré: O Projeto da Belém de Todos os
Tempos. O Liberal, Belém. 2018. Disponível em: https://www.oliberal.com/belem/nazar%C3%A9-o-projeto-da-bel%C3%A9m-de-todos-os-tempos-1.4085. Acesso em 22
de Jun. 2018.
PATETTA, Luciano. Considerações sobre o
ecletismo na Europa In: FABRIS, Annatereza
(org) Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo: Nobel & EDUSP,
1987.
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