Palestra Arquitetura Sanatorial. 1930-1945. Brasil-Portugal. Estudos comparativos.




No dia 9 de abril de 2014 ocorreu, no Auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPa, a palestra “Arquitetura Sanatorial. 1930-1945. Brasil-Portugal. Estudos comparativos” apresentada pelo professor Dr. Renato da Gama-Rosa Costa (Fundação Oswaldo Cruz / Casa de Oswaldo Cruz -RJ).  Com o intento de estudar como alguns projetos de sanatórios se encaixam no ideário da arquitetura do movimento moderno, a pesquisa desenvolvida pelo professor Dr. Renato da Gama-Rosa poderá esclarecer as leituras da modernidade e   reconsiderar um conjunto de sanatórios construídos nas décadas de 30 e 40 do século passado, além de contribuir para a valorização, no Brasil e em Portugal, desta tipologia de arquitetura realizada no período moderno.


Figura 1: Professora Cybelle Miranda apresentando o professor Dr. Renato da Gama-Rosa 
A França, detentora de vasto inventário de seus espaços de cura (base Merimée), vem indicando o empecilho de se atribuir valor patrimonial aos sanatórios edificados no período entre guerras. Entre outros fatores, destaca-se seu afastamento dos centros urbanos, a singularidade das suas dimensões, além da associação de “fracasso” terapêutico desses sanatórios, por parte dos médicos. Ignorando o academicismo, os projetos revezam entre o funcionalismo disfarçado de regionalismo e uma busca por formas inovadoras que servem perfeitamente aos arquitetos modernistas. Marcados pelos conceitos de mecanização, helioterapia e flexibilidade, os novos hospitais estão na origem de um modo de habitar higienista, de acordo com as Atas do Colóquio Histoire et Réhabilitation des Sanatoriums en Europe. 
O Docomomo, principal órgão responsável pela valorização deste patrimônio recente, age através da realização de seminários, ações de registro e inventário, denúncias e publicações. No que tange às ações de inventário, é interessante a constatação da ausência desses construtos nas listas de obras do Movimento Moderno para dar início a um processo de recuperação e valorização desse acervo. A arquitetura moderna para saúde ganhou enfoque do Docomomo, em 2004, em parceria com a Direção de Arquitetura e do Patrimônio no Ministério da Cultura e da Comunicação e com o Centro de Altos Estudos de Chaillot (Cidade da Arquitetura e do Patrimônio), por meio da primeira Jornada dedicada à história e à reabilitação dos sanatórios para tuberculosos erigidos entre as duas guerras mundiais. Como essas construções são consideradas ultrapassadas, sua preservação torna-se um desafio para profissionais da área de patrimônio e instituições governamentais.




Figura 2: Durante a palestra

A pesquisa do professor Renato expõe que a arquitetura sanatorial poderia variar de acordo com o tratamento específico que fosse ministrado em uma construção e também o seu tipo. No caso, os sanatórios escolhidos, além de terem sido construídos no Período do Estado Novo tanto no Brasil quanto em Portugal, eram destinados a tuberculosos e dividem-se em três tipos: sanatório de montanha, para tuberculose pulmonar; sanatório marítimo, para tuberculose óssea; e sanatório de planície.  A maior parte das edificações ligava-se a uma arquitetura de referência ou na modernidade arquitetônica do art déco norte-americano. Os arquitetos procuravam realizar uma arquitetura limpa, restrita a frontões estilizados, marcações e linhas cubistas, com enfoque para varandas, esquinas e acessos.

 

Figura 3: Sanatório de Santa Maria, Rio de Janeiro

Fonte:Imagens CPDOC - FGV/RJ


Figura 4: Sanatório João de Almada (Funchal – Ilha da Madeira)

Fonte: Acervo do Sanatório

A justificativa para a arquitetura de sanatórios como o Santa Maria (Rio de Janeiro) é que seus pavimentos, portadores de amplos espaços de circulação e varandas, eram cruciais para o tratamento da tuberculose pulmonar e óssea. A planta deste mesmo sanatório possuía um formato de dois ‘Y’s juntos, o que era comum na época. A parte em ‘V’ evitava os efeitos do vento forte, que prejudicava o tratamento dos doentes. As varandas são destaques: lugares de exposição ao sol, ar puro e contemplação do entorno.
Em Portugal, entre 1934 e 1935, foi lançado um plano chamado “armamento antituberculoso”, que se baseava na construção de espaços de tratamento de tuberculose, buscando respeitar as condições climáticas e geográficas do país. Os sanatórios expõem um modo de projetar de alta complexidade e que teria influenciado a arquitetura do século XX, segundo Beatriz Colomina. A função terapêutica das galerias de cura se tornou a expressão mais verdadeira e moderna a merecer ênfase de historiadores da arquitetura. Independente da forma plástica assumida pelos arquitetos nos sanatórios, em ambos os países, foi reservado às galerias de cura uma expressão de modernidade, pelo caráter eminentemente funcional.
A produção feita nos anos de 1930 a 1950, para os setores público e privado, demonstra linguagens consagradas pela historiografia da arquitetura moderna, mas igualmente trabalhos ainda à margem dessa historiografia. Não por coincidência, a arquitetura dos sanatórios construídos no período do Estado Novo, em Portugal e no Brasil, estaria a serviço de uma arquitetura oficial. Essa arquitetura conta com uma atitude moderna e aponta uma procura pela modernidade em programas para a saúde. No entanto, a maioria de seus autores continua fora da história da arquitetura brasileira e merecem olhar mais cuidadoso.
Segundo o professor, em termos arquitetônicos, a luta contra doenças como lepra, doenças mentais e tuberculose se traduziu na construção de hospitais gerais, de isolamento, sanatórios, manicômios, cuja linguagem arquitetônica empregada refletia uma produção contemporânea à sua época, contribuindo para o desenvolvimento de um rico repertório que merece ser analisado e reconhecido dentro da produção da arquitetura moderna, brasileira e portuguesa.


Figura 5: A plateia durante a exposição

Fotos: Juliane Santa Brígida
Resenha: Juliane Santa Brígida

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