III ICHT 2019 - Colóquio Internacional Imaginário: construir e habitar a terra, deformações, deslocamentos e devaneios



Os dias 16, 17 e 18 de abril de 2019 foram marcados pelo 3º Colóquio Internacional - Imaginário: Construir e Habitar a Terra - ICHT 2019, idealizado e organizado por docentes e pesquisadores da FAUUSP, São Paulo. A finalidade do evento é de ampliar as fronteiras do pensamento sobre as imagens e os imaginários das cidades no século XXI. A equipe do LAMEMO colaborou com o grupo de pesquisa com os seguintes trabalhos:
Cine Ópera: resistência e performances de imagens e corpos, sob a autoria da arquiteta e mestranda Salma Nogueira (PPGAU UFPA) e da professora Cybelle Salvador Miranda (FAU UFPA), na temática Cenários urbanos futuros. 

Resumo:
Fachada do Cine Ópera (A) 2013; (B) 2016; (C) ; (D);
(E) Interior da sala de exibição vista do mezanino, 2013;
 (F) Mezanino do Cine Ópera, 2013.
 Fonte: Salma Nogueira Ribeiro.  
As primeiras exibições erótico-pornográficas que se tem notícia na cidade de Belém do Pará, são de 1911. Ao longo das décadas de 1970 e 1980, exibições do gênero eram frequentes na programação dos cinemas de rua da cidade, com sessões bastante prestigiadas pelo público, em sua maioria composto por homens. Restringindo sua programação apenas a filmes do gênero, a partir de 1986, o Cine Ópera permanece hoje como um dos dois remanescentes dos cinemas de rua de Belém. A pequena sala que apresenta a escala dos cinemas de bairro populares, (em comparação aos grandes cinemas de rua outrora presentes na Cinelândia do bairro de Nazaré), foi o único cinema que resistiu a crise dos cinemas de rua mantendo-se como uma propriedade privada, que sobrevive da receita de sua bilheteria. Considerando sua singularidade e a representatividade do mesmo como locus de sociabilidade na cidade, o Cine Ópera torna-se ponto de resistência a partir da manutenção de suas técnicas antigas, reconhecido como único cinema do Brasil a exibir películas pornográficas com aparelhos de projeção movidos à queima de carvão. O método etnográfico mostrou-se o mais adequado para entender este lugar em que a tecnologia, a ambiência envelhecida e os aparelhos antiquados emolduram cenas em que a exibição da imagem na tela é mero pretexto para que diferentes performances se realizem na escuridão. Este objeto mônada torna-se exemplar para pensar as relações não ortodoxas entre as salas de projeção cinematográfica e as cidades, considerando ainda que o mesmo se situa em frente à Praça Santuário, clímax do percurso processional do Círio de Nazaré. Portanto, o Cine Ópera contribui para reforçar a centralidade do local, acolhendo públicos que resinificam o cinema de lugar de fruição passiva a espaço em que os atores reais encenam novas e diferentes versões dos enredos projetados na tela.

A Foto-Memória e o Fantasma do Passado: as dialéticas da imagem e da memória sobre o espaço urbano apresentado pela mestranda Vithória Carvalho da Silva (PPGAU UFPA), em coautoria com a professora Cybelle Salvador Miranda (FAU UFPA) sob a temática Cidade e imagem: fotografia e experiência urbana.

Lateral da farmácia César Santos,
já em estado de ruína alguns meses após o incêndio,
registrado em câmera analógica em outubro de 2015.
Fonte: Leonice Oliveira, 2015.
Resumo: 

Considerando o edifício Wilton Paes de Almeida localizado no centro histórico da cidade de São Paulo, e a Farmácia César Santos em Belém do Pará, datados do século XX e XIX respectivamente, objetiva-se expor as dialéticas entre imagem e memória presentes no espaço urbano a partir da concepção da Foto- memória, enquanto registro fotográfico que remarca um tempo anterior paralisado na imagem e evidencia o contraste entre novo e antigo. Ambos os espaços urbanos analisados sofreram com incêndios recentemente, o primeiro veio a ruir ao passo que a Farmácia ainda permanece em estado de ruína, sob poucos resquícios de seus tempos áureos. Sendo assim, a fotografia é analisada considerando dois principais fatores de interação com a memória, o objeto real e o virtual – a partir da veiculação das imagens em redes de compartilhamento, bem como ao ser assimilada pelo imaginário, em interação subjetiva do espaço e do ser humano – e a mensagem explícita e implícita, que ‘conversa’ com o observador ao capturar o vislumbre de um fantasma do passado, que persiste em imagens quando não mais existe em matéria. Tais dialéticas se dão em caráter metodológico de análise dos registros fotográficos acessados em redes de compartilhamento ou cedidos à pesquisa, em função da busca da foto-memória como uma recordação estática, que apresenta não só valor histórico como também afetivo. Os resultados das análises a partir das dialéticas atuam em função de um espaço urbano que sofreu com o tempo, o apagamento na memória e a invisibilidade do edifício, e permitem conclusões sobre as fantasmagorias urbanas e os conceitos que cercam as ruínas na cidade contemporânea.

Estes e outros artigos do colóquio podem ser encontrados nas atas do evento, que estão disponíveis para download: https://sites.usp.br/icht2019/francais-artigos/?fbclid=IwAR1g2rWf_U861m-JdE1p7nj2HpztS7w41FJFft0rRLzSjDTQNhrfAOjDFsk

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