III SEMINÁRIO DE ARQUITETURA MODERNA NA AMAZÔNIA - SAMA

Sob o tema "Arquiteturas e cidades amazônicas: os sentidos do moderno e os desafios contemporâneos" o III Seminário de arquitetura moderna na Amazônia aconteceu entre os dias 20 e 23 de março de 2018 e os pesquisadores do LAMEMO participaram com três trabalhos que contribuíram para o conhecimento a respeito da arquitetura moderna presente no estado do Pará.

Zâmara Lima (mestranda do PPGAU/UFPA) e Cybelle Miranda (coordenadora do LAMEMO e professora/UFPA) abordam o moderno tradicional no artigo Fordlândia: a modernidade da arquitetura fordista na Amazônia. Fordlândia é uma company town construída por norte-americanos e localizada no município de Aveiro- PA.

RESUMO:
Representação de uma das casa na Vila Americana.
Autor: Zâmara Lima, 2015 (com edição de Samara
Pinto).
Fordlândia foi uma cidade construída pelos norte-americanos na Amazônia, por meio de uma concessão de terras para a Ford Motor Company. O objetivo era alcançar autossuficiência em borracha e subsidiar a demanda da indústria automobilística entre final da década de 20 e meados da década de 40 do século XX. Construída aos moldes fordistas e com uma infraestrutura semelhante às pequenas cidades nos Estados Unidos, tornou-se modelo de modernidade. Os fatores que implicaram nesta visão foram a configuração urbanística de company town, uma das primeiras na Amazônia, com setorização das áreas de atividades industriais, comerciais e residenciais a fim de uma organização física, produtiva e social; os equipamentos urbanos e de lazer construídos para o “bem estar” dos moradores/funcionários, e a arquitetura de bangalôs. Pretende-se nesse artigo inserir a estruturação de Fordlândia no contexto de modernidade da América Latina, ressaltando as peculiaridades de cidades-empresas que trouxeram consigo além de ideais modernos, muitos preceitos do capitalismo que estava em expansão, de que foram expressões a arquitetura e a urbanização, além de representar graficamente em plantas-baixas os indícios do moderno na nova forma de morar através dessa arquitetura que reúne moderno e tradicional como testemunha material da passagem dos norte-americanos pela Amazônia brasileira.

Além disso, a professora Cybelle Miranda juntamente com o Professor Ronaldo Carvalho (UFPA) e Vithória Silva (mestranda do PPGAU/UFPA) trazem A casa do arquiteto como ícone: arquitetura moderna, minimalismo e maneirismos, com o estudo das residências de dois arquitetos, La Rocque Soares e Hélio Veríssimo.

RESUMO:
Fachada da casa La Rocque. Autor: Vithória Silva, 2017.
O presente artigo visa, sob a inspiração da fenomenologia, traçar um paralelo entre as residências dos arquitetos La Rocque Soares e Hélio Veríssimo, buscando entender como o sentimento de lar foi composto a partir do projeto e da construção. Inseridos em um cenário de difusão do pensamento moderno no Pará, Roberto de La Rocque Soares (Belém 1924 -2001) e Hélio Veríssimo (Santo Ângelo 1933) integraram a primeira geração do Curso de Arquitetura da Universidade Federal do Pará, criado em março de 1964. O tema da habitação unifamiliar concebida para a família do projetista destaca-se dentre as produções destes arquitetos, adquirindo relevância para pensar a articulação entre o projetista e o projeto na concepção do espaço feliz. Na esteira das ideias de espaço poético para Bachelard (1996), e do habitar como ato simbólico em Pallasmaa (2017), analisamos as moradas projetadas pelos arquitetos em destaque, buscando congruências e diversidade nos aspectos técnicos, estéticos e funcionais que permitam vislumbrar o espírito dos arquitetos expressos nestas obras. Adotando a análise do projeto em relação à casa efetivamente construída, buscou-se compreender a obra como produto da formação, da história de vida e da personalidade do projetista. Conclui-se que, nas duas residências, as matrizes modernas repercutem de modo distinto: na casa La Rocque Soares (1961-67) destaca-se a síntese estético-espacial, enquanto a casa Hélio Veríssimo (1971-81) incorpora elementos típicos da arquitetura moderna, que remetem de maneira clara à linguagem do estilo. Assim, explora-se a interpretação da casa do arquiteto como um ícone que incorpora a personalidade do indivíduo junto ao desejo do profissional, dada a liberdade que tem – por ser tanto arquiteto como cliente.

Área da churrasqueira ao fundo da residência de Hélio
Veríssimo. Autor: Ronaldo Marques de Carvalho, 2009.

Raio que o parta na Cidade Velha: quando o moderno encontra a tradição é um estudo fruto das pesquisas de Laura Costa (doutoranda/PPGAU/UFPA) e Cybelle Miranda, que demonstra a arquitetura não-erudita produzida pelos próprios moradores, desenhistas e por engenheiros, presente em residências da capital do estado do Pará. 

RESUMO
O “Raio que o parta” (RQP) é uma expressão da arquitetura não-erudita presente no Estado do Pará em meados do século XX, resultado da apropriação estética da arquitetura moderna em residências de classe média sob autoria de desenhistas, engenheiros e dos próprios moradores. Em Belém, encontramos com frequência fachadas com características do RQP, como no bairro da Cidade Velha – cujo traçado estreito das ruas, além das construções históricas tombadas por órgãos do patrimônio histórico, denunciam a herança da ocupação inicial da cidade. Este artigo observa a inserção do moderno em ambiente de tradição colonial e imperial através de ferramentas como o método etnográfico, mapeamento de fachadas RQP e entrevistas com os moradores, observando a concentração de residências e suas características, bem como a percepção dos entrevistados sobre a relação entre antigo e moderno no que diz respeito à importância conferida a temas como preservação e memória arquitetônica. Na pesquisa, identificamos 27 fachadas espalhadas pelo bairro e o índice de alterações ou apagamentos dos traços característicos da linguagem Raio que o parta registrado no período de 2012 a 2014 se reflete no posicionamento da maioria dos moradores entrevistados que afirmam não pretender modificar a fachada, seja por vínculo familiar ou gosto.

Fachada da residência número 40, na passagem Maria Luiza. Autor: Laura Costa, 2014.

Estes artigos podem ser lidos na íntegra  nos seguintes links:

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BELÉM DOS ECLETISMOS – Elementos decorativos marcam as casas burguesas no bairro de Nazaré

SANATÓRIO Vicentina Aranha: entre o passado assistencial e o uso público

TCC Maternidade Santa Luísa de Marillac: diagnóstico de uma unidade de saúde em Cametá-Pará